quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Novelas

Engraçado a visão que alguns conservadores têm em relação as novelas.
O pensamento de que só mostra o que não presta, como se existisse no mundo do mesmo, apenas coisas prestáveis, e o conteúdo das novelas fossem coisas pertencentes a outro mundo, de coisas apenas imprestáveis.
TUDO BEM!
Vamos ignorar o adultério, a libido por mulheres mais velhas e por homens mais jovens, ou vice-e-versa. As futilidades, a ambição, os vilões, as traições...
OU MELHOR!
Escancarar e reafirmar o que está latente na sociedade. Tocar na ferida. Fazer com que a mulher que chegou cansada do trabalho corra pra assistir a novela, torça para que os mocinhos fiquem juntos (apesar de saber que no final, eles vão ficar juntos mesmo), se revolte com algumas coisas, a ponto de falar sozinha com os personagens. E chore com a morte de alguém, e ouça a música ou veja uma cena apenas e lembre... do seu namorado, do seu ex, ou lembre até do seu futuro, que ainda vai chegar.

Quem nunca ouviu frases célebres do tipo : "Só podia ser coisa de novela mesmo" ou "Isso só acontece em novela" ?
Coincidentemente isto ocorre em cenas que os casais de esbarram, ou que uma pessoa está sendo seguida e não percebe, dentre outras.
Ainda existe a famosa : "cena mal feita"
Geralmente é um acidente, uma morte, uma briga. Em sua maioria, são tragédias "mal feitas", como se a tragédia fosse perfeita, quando na verdade, a perfeição que é trágica.

Claro, não posso esquecer dos adeptos da teoria de que TODA NOVELA É IGUAL. De fato, quase concordo, existem apenas pequenas modificações, atualizações na abordagem de temas da atualidade ou releitura de fatos históricos. MAS, eu não posso dizer que TODA NOVELA É IGUAL, quando eu quero compará-la com a vida!

E que vida! Óh vida! Bandida, tirana, cigana, lágrima de cana, que engana e emana da mana.

VOLTANDO...

O QUE DIFERE UMA VIDA, DE UMA NOVELA ?

[\ não vou me ater a isto, só quis criar uma pequena linha de raciocínio na cabeça agora talvez confusa deste leitor]

Eu vejo meus figurantes, sendo personagens principais em outras vidas, vejo pessoas ensaiando um teste para estrelar como coadjuvante comigo, enquanto podiam contracenar em papéis maiores, percebo a mudança dos cenários e as mesmices dos mesmos. Ainda vejo um suposto cara, por trás de tudo, querendo cortar muitas cenas, achando que não tá legal. Quem ele pensa que é ? EEEEEEEIIIIII.. eu fiz meu roteiro, que mais parece um rascunho, MAS DEIXE-O, RASURADO, IMODIFICADO. Algumas coisas saem no improviso, mas outras eu já tinha ensaiado. Percebo câmeras por todos os lados, filmando passo-a-passo pra pôr definitivamente em cena, só pra deixar no making of, ou descartar simplesmente. Tem gente palpitando, dizendo as roupas, a maquiagem, a forma de me comportar. Pessoas me determinando o tempo que eu devo falar e com quem devo falar. Os personagens que eu encaro, não são livres, mesmo quando parecem muito serem. Me conforto só em saber que não sou a única sujeita e submetida a esta fadigante rotina. É uma agonia nos bastidores, a tensão, a expectativa. Quando torno a primeira cena pública, sujeito-me a tudo, e o tudo nem sempre é tudo.
Em sendo assim, acredito não possuir papel muito diferente desta pessoa que lê estas minhas escritas. Ou, engano-me?

Bom! Eu não sei o que meu expectador pensou durante todo o processo desta vida. E receio um temor ao obter conhecimento. Pois talvez prefira esta incerteza proporcionada pela ignorância deste saber, do que uma certeza, quem sabe, desconsertante.
Afinal, no final de tudo, nem sempre ouço aplausos, raros querem autógrafos, muitos contabilizam o tempo perdido e convertem em dinheiro observando o quanto perderam, outros despertam do sono profundo que encontravam-se diante do tédio que tivera, outros puxam um lencinho da bolsa e enxugam a face.
ENTENDO!
Agradar é uma tarefa difícil, a qual eu não pretendo ingressar arduamente. Mas, se esta me vinher, será bem aceita. Pois, compreendo que os finais, em sua maioria, são desagradáveis. Como é perceptível em pesquisas populares sobre finais de novelas. No entanto, apesar de inevitável, peço a neutralidade do expectador/leitor diante do objeto a ser estudado, no intuito de evitar aquilo que pode ser inevitável.

Eis que surge o esperado FINAL do texto...

FINAL FELIZ? "Isso só acontece em novela" . Mas, eu passei o texto todo dizendo que a novela e a vida, são parecidas. Isso seria uma contradição de tudo o que mencionei? Ou uma afirmação de que na vida também temos finais felizes? (nem eu sei). De repente, só agora no final do texto com esta pergunta descobrimos "O QUE DIFERE UMA VIDA, DE UMA NOVELA".